A Matriz Cultural Caiçara como parte de uma Matriz Identitária

             

                No último sábado, fui ao Gonzaga assistir a Orquestra de Rua, que se apresentou em um evento promovido pela Prefeitura de Santos, em parceira com outras instituições, chamado “Gonzalegria”. A Orquestra tocou um trecho do hino de Santos. Fiquei surpresa, pois eu mesma não o conhecia, talvez nunca tivesse ouvido. E parei para refletir: “Quantos santistas conhecem o hino da cidade? Quantos caiçaras conhecem a cultura caiçara? Quantas pessoas se autoconhecem?”. Essas questões são todas relativas.

                Sócrates disse uma vez “Conhece-te a ti mesmo, e conhecerás os deuses e o universo.”. Conhecer a si mesmo é saber quem se é, da onde se veio, e para onde se vai. É descobrir sua identidade como ser humano e o todo que está a sua volta, dentro de um Universo onde tudo tem sua função, desde o Sol em sua imensidão, até uma formiga em sua pequenez.

                E explorar as diversas matrizes identitárias, especialmente a matriz caiçara, para os que vivem no litoral, é fundamental para se conhecer, se situar em um contexto artístico que ocorre a todo o momento através de eventos, em vários dias, vários lugares, cuja maioria dos habitantes não se interessa nem em conhecer ou comparecer. É compreender nossa arte, nossos costumes, nossos pensamentos, nossas aspirações, estar inserido na cultura desses habitantes tradicionais do litoral das regiões Sudeste e Sul do Brasil, formado da miscigenação entre índios, brancos e negros que vivem da pesca artesanal, da agricultura, da caça, do extrativismo vegetal, do artesanato, e do ecoturismo. Muitos que vivem aqui conhecem tanto da cultura estrangeira, principalmente a americana, e quase absolutamente nada daqui. É o que acontece com o ser humano: conhece muito do exterior, do que vem de fora pra dentro, mas nada de dentro pra fora.

                Não conhecer as culturas caiçaras, para os litorâneos, é não conhecer um pedaço de si. É como se faltasse uma peça no quebra-cabeças do entendimento e construção a respeito de si mesmo.

                Gostaria que todos tivessem o mesmo interesse em apreciar eventos como o Sarau Caiçara, mas, finalizando com uma frase de Confúcio, um filósofo chinês: “A prática da humanidade resume-se a isto: praticar o bem e restaurar os ritos. Doma o eu e restaura os ritos por apenas um dia, e o mundo inteiro se juntará a tua humanidade. A prática da humanidade tem origem no eu e não em outra pessoa.”.